quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Retrato de família

Entram na pizzaria. O pai, a mãe e as crianças. Que já nem são mais tão crianças, mas os pais ainda mimam como se fossem - "olha os primeiros passos!", "veja como fala!", "está dirigindo!", "em breve, se forma!". Sentam-se na mesa de sempre. São atendidos pelo garçom de sempre. Até os comentários são os de sempre - "como as crianças cresceram!", dizem todos. O cardápio nem chega à mesa; o pedido é, também, o de sempre.

Enquanto esperam por sua pizza, conversam sobre o dia, a semana, traçam planos para o futuro. Retrato de uma família comum, partilhando a sua comida e a sua vida. Retrato de um modelo exemplar de uma instituição social que perdeu seu brilho, a família.

A pizza chega. A conversa mal se sustenta deixa de ser alimentada. A sobrevivência fala mais alto e a fome deve ser saciada. Silêncio respeitoso interrompido apenas pela educação - "me passa o ketchup, por favor?". Não há mais pedaço de pizza para ser devorado.

Passam-se alguns minutos. É o anúncio do início da digestão. Últimos goles das bebidas - o fim se aproxima. Ainda há uma tímida tentativa de se retomar a conversa. Até o pedido da conta, que demora, mas chega. "Até a próxima vez", despedem-se e rumam para casa, onde cada um toma seu caminho (pro jornal, pra novela, pro computador, pro dever, pro livro). Retrato de um modelo exemplar de uma instituição social que perdeu seu brilho, a família.

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