segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

No escuro do quarto

No escuro do quarto, quando o conhecido toma formas assustadoras e o desconhecido ganha tamanho desproporcional, me encolho o máximo que posso, buscando o calor numa noite fria. As sombras não permitem que eu veja com clareza; os objetos que utilizo à luz do dia estão disformes e misturam-se de um jeito que se faz impossível seguir seus contornos. Há alguém por perto, disso eu sei, mas esse alguém dorme um sono profundo, indiferente a minha insônia e ao meu medo que grita cada vez mais alto - também pudera: mal nos conhecemos, nem saberia o que lhe dizer...

No escuro do quarto, quando o conhecido toma formas assustadoras e o desconhecido ganha tamanho desproporcional, avisto a luz que entra pela janela. Vinda da rua, invade meu quarto sem de fato o deixar claro - nem era essa a sua função. Mas a porção do teto iluminado é a última coisa que vejo antes de adormecer. É com os olhos voltados para aquele pequeno pedaço de teto iluminado que vejo o dia de amanhã e é essa luz, ainda que fraca, que ilumina os cantos escuros dentro de mim tão temerosos pelo dia seguinte. É olhando para esta luz que vou dormir, já ensaiando um sorriso, pensando nas pessoas que não vou ver amanhã, mas que, com certeza, um dia, vão adorar saber sobre as coisas que vi na luz que invadia meu quarto escuro - lampejo do que está por vir.

E então o medo, ainda um companheiro persistente, deixa de fazer barulho e posso dormir. Ainda sorrindo.

Nenhum comentário: