sábado, 19 de janeiro de 2008

Na arca de Babel

Os cinco viajantes entraram na arca com muitos kilometros pela frente. Levavam uma enorme bagagem e outros apretechos nos seus pés. Longas horas de viagem até o seu destino. Curvas e subidas sem fim em meio a momentos de "socorro, estamos perdidos" e "uhul, estamos na estrada!".

O chinês empenhava-se em descobrir como voltar para o local de descanço. Virava o mapa pra lá e pra cá (até descobrir que o estava analisando ao contrário...) na esperança de poder indicar a boa estrada. E haja paciência para tal tarefa! "Vai para a direita", dizia, para logo em seguida completar: "Eu disse direita e não esquerda"...

Mas, na verdade, quem conduzia a arca era um africano oriundo de um tempo e espaço que há muito deixaram de existir - sobram apenas resquícios de sua civilização e, se fala em sua língua, nem é mais compreendido. Por ser o condutor, sua responsabilidade era a maior de todas, mas o estranhamento com os demais passageiros tornava a aventura desgastante em alguns momentos.

O grego fazia questão de viajar acompanhado, porém solitário. Seguia sem se envolver nas aventuras de seu caminho, sem palpitar na direção que seguiriam. Apenas contemplando e se esforçando para manter-se distante - sem deixar de registrar tudo com sua máquina de capturar imagens.

Porém, era o alemão que ia com maior pose. Olhando sempre para frente, traçava planos para o futuro naquele lugar em que o passado estava tão presente - sem se dar conta de como o agora o tornava um prisioneiro de sua realidade.

E o pobre português falava com a sua língua enrolada e nem sempre compreendia o que se passava. Alternava momentos de estranhamento com a terra longíqua e instantes de encantamento com aquele lugar tão diferente e tão próximo ao mesmo tempo de sua pátria.

A comunicação era só um detalhe. Estavam todos na mesma situação: longe de casa, unidos pela arca que dividiam. Mesmo que fosse tão difícil usar uma língua comum, iam levando. Ora rindo juntos, ora brigando.

4 comentários:

Anônimo disse...

As personagens, a história... tudo (enfim) me é bastante familiar, ou melhor, sutilmente familiar. Por que será, querida irmã?

Eu mesma disse...

familiar é a palavra hein?

Vívian Paim disse...

"Uau!" eu diria que foi a minha primeira reação. Nunca imaginei que a minha irmãzinha pudesse escrever uma crônica tão boa! sem qrer subestimá-la, claro! Mas taí, tive a impressão que até me arrepiei com tamanha semelhança desses personagens com uma família que eu conheço. Devo admitir que me interessei particularmente por esse alemão aí... rolou uma identificação, sabe? Acho que vou ter que salvar - como se não bastasse tê-lo lido 3 vezes!

Valéria Vilas Bôas disse...

Ha ha ha, não vou mais fazer nenhum comentário sobre o familiar, ok? Mas devo dizer que entendi o comentário aí de cima...